Minha primeira (e péssima) experiência acima dos 5000m

Em setembro de 2018 realizei o sonho de conhecer Machu Picchu. Mais do que isso, planejei em quatro dias de viagem no Peru, subir duas montanhas, mesmo não tendo sequer feito uma trilha no Brasil.

A primeira experiência, e de fato, o primeiro cume foi na montanha Huayna Picchu (que aparece em quase todas as fotos de Macchu Picchu). Foram pouco mais de 2h de subida e acabei me divertindo em subir degraus na beira de um precipício que assusta qualquer um. A experiência foi maravilhosa, e a partir daquele dia me tornei o cara que ama montanhas mas não sabe muito bem explicar o porquê.

No dia seguinte era o dia de fazer uma trilha até o topo da Rainbow Mountain, que no Peru é conhecida como Vinicunca, outra montanha muito famosa no Instagram. Minha aventura começaria cedo, às 4h30 da manhã a van que me levaria até a base da montanha me pegaria no hotel. Tive o azar de ser o primeiro passageiro, e com isso, ficamos por volta de 1h buscando os outros passageiros por Cusco.

Depois de umas 2h de viagem, passando por muitos vales a uma velocidade um pouco exagerada, chegamos em um acampamento ainda a 1h da Rainbow Mountain para um café da manhã. E neste momento, senti um frio absurdo. Ainda nem tinha chegado a 4000m de altitude e já estava com medo de passar perrengue na montanha. Porém, depois de um chá e um ótimo café da manhã me esquentei um pouco. Também aproveitei pra conhecer mais os membros da "expedição", em sua maioria brasileiros.

Depois de 1h finalmente chegamos na base da montanha, já a 4400m, e estranhamente, não sentia frio. Minha ideia era ser um dos primeiros a chagarem ao topo para tirar fotos sem muitas pessoas aparecendo hehe, e com isso, fui um dos primeiros a começar a trilha. Os primeiros 2km me surpreenderam... Eu não estava com dificuldade nenhuma de respirar e ainda era um dos primeiros junto com uma companheira alemã. Arranhei no inglês e contei pra ela o quanto estava contente de estar se sentindo bem naquela altitude, e ela também estava surpresa por parte dela. Porém, vieram o próximos 2km e aí que a altitude começou a me pegar. Já começava a ser ultrapassado pelos outros membros da equipe e parava pra descansar a cada 5 minutos. Neste momento a conta de não ter feito uma aclimatação de pelo menos uns cinco dias em Cusco começava a chegar.

Após muito esforço e várias paradas para descanso, cheguei até a parte mais alta possível para turistas. Estava extremamente satisfeito e nem ligava para o número incrível de pessoas que chegaram antes de mim (umas 70, talvez). Encontrei uma brasileira do meu grupo e tirei algumas fotos, inclusive a minha favorita, com uma alpaca.

A descida

Depois de ficar uns 20 minutos no topo com um vento muito forte, combinei com a brasileira de descermos juntos. Teoricamente, o pior já tinha passado, faltava só descer tudo que tínhamos subido. Porém, nem 5 minutos de descida comecei a me sentir extremamente cansado, não conseguia dar mais de 10 passos sem parar para descansar, e a minha amiga brasileira, muito paciente também parava comigo, mas nessa hora percebi que eu teria problemas para descer. Tentei andar mais um pouco mas estava esgotado. A todo momento, desciam cavalos que levavam os turistas mais preguiçosos até o topo pela bagatela de 70 soles peruanos (que na época estava quase 1/1 do Real Brasileiro). Não queria de jeito nenhum recorrer ao cavalo para descer, até por dó dos animais e principalmente, por não ter o dinheiro em espécie na carteira.

Descansei mais um pouco e comecei a aceitar a ideia de descer por cavalo, mas só tinha 20 soles, quem iria aceitar 20 soles quando o normal é pagar 50 pela descida? Bom, como o mais difícil era a subida, quase todos os cavalos voltavam sem turistas, e após uma negociação meio no desespero com um tiozinho muito gente boa, aceitei descer por cavalo. Montei em cima e após uns quatro passos já tive a certeza que eu vomitaria a qualquer momento. Nem terminei de pensar nisso e já avisei o guia pra ele parar porque estava passando mal. Parei e logo virei de lado para vomitar HORRORES, isso com várias pessoas descendo e olhando... SHAME. Andei e vomitei por mais umas três vezes, mastiguei folha de coca que o guia me ofereceu mas nesse momento já não fazia efeito. Os 6km da descida duraram uma eternidade.

Na verdade, 5km de descida. O km final era feito a pé, já que os cavalos ficam em uma fazenda já um pouco acima da base da montanha. De novo, teoricamente seria uma parte fácil, apenas 1km até a base. Depois era só esperar dentro da van até todos chegarem.

Sofrendo com o mal de montanha

Logo após descer do cavalo e dar alguns passos, já estava esgotado novamente. Pode parecer um exagero escrever isso, mas de fato, eram cinco passos e eu já estava esgotado. Aí sentava por uns cinco minutos, olhava a paisagem e levantava para mais uns cinco passos. Esse loop deve ter durado uma hora. Com um esforço absurdo cheguei até o estacionamento onde tinha alguns comércios e um banco de madeira. Por ter descido de cavalo, fui o primeiro a chegar, mas nem fiquei incomodado porque tudo que eu queria era ficar sentado naquele banco por horas.

Pouco a pouco, os passageiros da minha van foram chegando, e depois de ficar uns 30 minutos sentado no banco olhando para o céu, já estava bem melhor. Pouco mais de 1h30 depois já estava dentro da van vendo as fotos que havia tirado, ainda cansado mas sem o mal-estar que estava antes. O mais triste para mim foi ver as pessoas chegando sem estarem cansadas, mas claro, a maioria já estava em Cusco há mais de 5 dias, portanto, já estavam aclimatizadas.

Chegada em Cusco e aprendizado com as lições da montanha

A volta foi bem mais demorada devido a obras em algumas estradas até Cusco. A viagem deve ter durado umas 3h, e foi bizarro perceber que quando desci da van já estava quase 100% recuperado da trilha, o que de fato, comprova o quão importante foi abaixar minha elevação (Cusco fica a 2900m de altitude). Por mais que havia sofrido, já havia mudado meu humor e estava contente de ter chegado pela primeira vez a mais de 5000m. Tomei um belo banho e fui dormir cedo porque no dia seguinte era meu voo de volta para o Brasil.

A lição que ficou foi o quão importante é fazer uma aclimatação antes de chegar a altas altitudes. Se estivesse pelo menos há cinco dias em Cusco, com certeza teria tido uma experiência menos dolorosa na Rainbow Mountain.

Rainbow Mountain (Vinicunca)
  • Elevation: 5200m
  • Continent: South America
  • Range: Andes
  • Country: